O jovem do morro guia

13/10/2020

Corro agora por entre o lodo das margens e trago um cesto de conchas, faço isso a cada dois dias. A canoa quase mergulha por um fio, tão cheia de berbigões e peixes, que ofereço para o morro guia aqui da Volta Velha onde vivemos sempre por um tempo e voltamos. Esta área é muito boa, tem peixes grandes, pedras de afiar e muitas conchas.

Meu irmão é o guerreiro da família, costuma sair pelas vizinhanças só para se preparar à disputas com outras comunidades. Ele come comidas de guerreiro, arranha a pele e se refugia para ficar forte e preparado. 

Enquanto isso eu me concentro na pesca, aprendi tudo saindo com meu tio que é um pescador de mão cheia. Tenho orgulho do quanto isso importa para todos. 

À noite os mais velhos se reúnem para uma cerimônia mais dos homens, ateiam fogo e conversam sobre as noites, os dias e as estrelas, eu adoro gastar até a última energia do meu dia para escutá-los atentamente, cada vez uma nova história, algumas até assustadoras. 

Vou ficar logo com uma menina, ela é uma lindeza, mas antes disso preciso mostrar a todos que consigo dar conta das minhas coisas. Acho que vou pedir para os meus pais para me deixar por aqui com ela quando eles partirem para outro morro guia, será que é possível? Acho que não, não dá pra ficarmos sozinhos nesse mundão, temos que acompanhar nossa família, somos fortes só quando estamos juntos. Quem sabe um dia conseguimos...